"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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domingo, 19 de outubro de 2014

O Deserto como espaço ininterrupto do SER.



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As falas sobre deserto soam para alguns como uma composição poética e espiritualista... para outros é simplesmente um lugar, um espaço diferente de tantos outros lugares, característico, no meio do nada, onde sobressaem a realidade que lhe é própria: animais peçonhentos, tempestades de areia, sol escaldante e frio estabilizador. Fábulas, mitos, revelações, miragens, bem como aparições atreladas às fantasias das mais atraentes e por vezes enganosas são relatadas de forma as mais diversas com o intuito de transcendência do mistério que aí se desdobra, e que compreensivelmente enchem por certo os olhos daqueles que são atraídos por narrações de acontecimentos espirituais elevados. O deserto é sem dúvida alguma o cenário dos grandes acontecimentos e desfechos, marcando assim a experiência de quem se permite atravessá-lo como algo inusitado e eterno.  

A verdade é que o deserto traz em si mesmo o fascínio que lhe é peculiar, assim também como a sua realidade de terror momentâneo, para quem lhe escapa, e de perda para quem lhe é ferido de morte, o que lhe é bem mais adequado.  Há de alguma forma quem se veja aí, sob estes dois polos, e se identifique com todas as realidades mencionadas acima, ou aquelas que por ignorância me esquivei de mencionar. 

Por mais simples que seja o mistério que o rodeia é ainda muito maior, vai muito além do que a linguagem possa captar e externar, e só poderá ser compreendido em sua totalidade quando o ser for de fato confrontado com a nossa individuação.  Sendo assim, não seria estranho dizer ou até mesmo afirmar que ‘o Deserto é o espaço do SER’; é lugar por excelência onde a pessoa pode ‘SER’ de fato, sem máscaras, tal como se é, originalmente.

“No deserto somos quem somos... Não há como camuflar o ‘SER’ em vista de nossa vaidade e orgulho”

Por mais que queiramos ficar estacionados pela escolha de ficar fantasiando a realidade deste espaço tão distinto de tantos outros, a sua realidade nos remete a nossa real verdade e isso pode nos atingir até às bases de nosso profundo mistério, e que se esconde em Deus. 

Ao pensarmos no significado do termo ‘DESERTO’, e sua implicação, nos advêm duas realidades distintas: em primeiro lugar a ideia de deserto como concebemos, lugar ermo, inóspito, concreto, material, etc., e que se caracteriza em algo palpável, físico; o segundo é o da imanência, ou seja, da realidade que vai para além daquilo que se pode ver e tocar e que está no âmbito da espiritualização. Se por um lado temos a imagem do deserto físico, atrelado a este há também uma realidade para além do nosso entendimento e que se funde nas realidades interiores do quotidiano de cada ser. Uma jamais poderá ser compreendida sem a conotação que a outra implica e vice versa.

O deserto é o lugar da verdade, da verdade sobre mim mesmo, em primeiro lugar, que se une a todas as verdades, ao olhar para a humanidade inteira no orbe. No deserto nos deparamos com as nossas falsas fantasias de nós mesmos, somos o que somos sem a pressão que a sociedade de todos os tempos, ao longo dos séculos, fora construindo como sendo o padrão de vida ‘aceitável’.  É justamente aí, no deserto que nos apresentamos diante de Deus como de fato somos e não pode haver enganos de pessoa, ou seja, é aí mesmo no deserto onde O mesmo se deixa ser amado e pode amar na verdade, pois este mesmo jamais se deixa ser encontrado quando o engano é a vestidura de toda uma vida marcada sob o peso de ser quem não é.


Um dado curioso nas Sagradas Escrituras é que toda manifestação de Deus à alguém é marcada por um confronto pessoal que pode ser entendido como um deserto particular/espiritual ou até mesmo no deserto físico como foi o caso de Israel, andante, peregrino e em marcha para a terra prometida. Quando o mesmo se esquecia de quem era, pelo pecado, a crise se instalava, e só por meio da penitência (do reconhecimento da falta) que Deus o acolhia deveras em seu amor.

Ora, o maior pecado que nos afasta de Deus é justamente o pecado que se refere à nossa verdade, verdade esta que se estreita com a realidade de nossa pequenez, camuflada muitas vezes pela imagem soberba ‘do que’ e ‘de  quem’ não somos e nunca fomos. 

A nós cabe o grito do cego às portas da cidade de Jericó, que, consciente de sua verdade, seu deserto particular, não cessou de gritar em sua dor com a voz, mas também com a pureza de seu coração:

“...Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!”  Mt 18, 38

É só então quando Deus nos reconhece, se inclina sobre nós e nos devolve a verdadeira vida. Assim seja!





By Maurus



 

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