"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Epístola de São Efrém da Síria








Santo Efrém da Síria (306-373 d.C. aprox.), Padre da Igreja, expõe nesta epístola a um monge uma série de questões espirituais referentes à vida monástica, entre elas a humildade, a vivência da caridade e a exortação para que o cristão seja sempre fiel à fé que recebeu da Igreja Católica.



Meu bem-amado no Senhor,

quando desejardes dar alguma resposta, deves por em tua boca, antes de mais nada, a humildade uma vez que sabes muito bem que, por ela, todo o poder do inimigo se reduz a nada. Tu conheces a bondade do teu Mestre, que foi blasfemado, e como Ele se fez humilde e obediente inclusive até a morte. Filho meu, trabalha por ti mesmo para firmar a humildade em tua boca, em teu coração e em teu colo, pois há um mandamento que a exige. Lembra-te de Davi, que vangloriava-se por sua humildade e disse: “Porque me humilho, o Senhor me libertou e me abençoou” (Sal 29 [30], 8-12). 

Filho meu, apega-te à humildade e farás com que as virtudes de Deus te acompanhem. E se permanecerdes no estado de humildade, nenhuma paixão, qualquer que seja, poderá dominar-te. Não existe medida para a beleza do homem que é humilde. Não há paixão, qualquer que seja, capaz de dominar o homem humilde; e não há medida para a sua beleza. O homem humilde é um sacrifício a Deus. O coração de Deus e de seus anjos descansam naquele que é humilde. Mais ainda: quando os anjos o glorificam, é porque houve uma razão para ele obter todas as virtudes; porém, aquele que se revestiu da humildade não necessita de nenhuma razão além de se Ter feito humilde.

Filho meu, estas são as virtudes da humildade. Filho meu, conserva a paz, pois está escrito: “Aquele que é sábio, nesse momento conservará a paz” (Am 5, 13). Mantém a paz até que te questionem. E quando te questionarem, fale usando palavras humildes; comporta-te também de maneira humilde. Não lamentes. Se a pergunta exigir extensa resposta, senta-te. Nunca fales enquanto os outros estiverem usando palavras de desprezo; mas, alegremente, não esqueças que teus pensamentos devem ser estes: “não escutei [as palavras de desprezo]”. Prestai tua máxima atenção, porém, à toda palavra valiosa, pois está escrito: “Se tu deixas passar a palavra e não a escuta, te enganas a ti mesmo, filho meu no Senhor”. Te dei mandamentos desde o princípio; guarda-os desde a juventude. Examina o que diz Paulo; disse: “Desde o tempo em que eras um menino, conhecias a Santa Escritura, que tem o poder para te salvar” (2Tim 3,15). Aprende toda regra dos preceitos do monge, e faz-te querido em todos os teus trabalhos. Se tu, que sois jovem, vais para o deserto e te estabeleces em um local muito grande para ti e vês que Deus ali está, não deixes esse lugar para ir para outro, porque estais descontente. Deixa que o deserto em que te estabeleceste te seja suficiente, não deixeis que Ele se ofenda, pois está escrito: “Não é uma pequena coisa contrária que provocará a ira nos homens”.

No deserto em que te estabeleceste mantém esta maneira de agir e não fujas de um lugar para outro. Não te dirija à morada de ninguém para lamentar no que crês, muito menos por causa dos desejos do teu estômago. Não estejas em companhia do homem agitado e problemático, mas assegura-te em continuar com tua vida silenciosa; não estejas também na boca dos teus irmãos. Te suplico, meu amado no Senhor, que deixeis que tua meta principal seja aprender; escutar com atenção (ou obedecer) te dará a paz, pois está escrito: “O proveito da instrução não é a prata”. Cuida-te para jamais deixar de escutar (ou desobedecer). Que a palavra de Saul não se realize em ti, nem em tua geração, pois Deus é mais facilmente persuadido pela obediência do que pelo sacrifício (cf. 1 Sam 15, 22).

Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; come com a roupa que te deixas ver em público; se acontecer de serdes o último a ser servido, não digas: “Traga-me logo, pois aqui está sentado alguém maior que tu”; quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum; quando estiverdes sentado no meio dos irmãos e desejares cuspir, não o faça no meio deles, mas afasta-te a certa distância e então cospe.

Quando estiverdes dormindo em algum lugar com os irmãos, não permitas que pessoa alguma se aproxime a menos de um cotovelo de distância. Se o trabalho for tranqüilo, não durmas sobre a esteira, mas dobra-a pois sois um homem jovem. Não durmas estendido, nem tampouco de costas, para que teus sonhos não te molestem.

Quando estiverdes caminhando com os irmãos, mantém-te sempre a alguma distância deles, pois quando caminhas com um irmão fazes com que teu coração esteja ocioso. Se estiverdes usando sandálias nos pés e o que caminha contigo não as têm, desata-as e caminha como ele, pois está escrito: “Sofrereis”.

Faz o trabalho do pregador. Faça-o cuidadosamente enquanto estiverdes em tua habitação. Não comas enquanto o sol estiver brilhando. Não acendas a fogueira para ti apenas, ou te transformarás num homem exibido. Quando for necessário aquecer-se, chama algum homem pobre e miserável que está contigo no deserto, e serás elogiado, ao dizer: “Não posso comer sozinho o meu pão”.

Se estiverdes numa montanha ou em um lugar onde há algum irmão doente, visita-o duas vezes ao dia: de manhã, antes de começardes a trabalhar com tuas mãos, e à tarde; pois está escrito, meu amado no Senhor: “Estive doente e tu me visitaste” (Mt 25, 36. 43). Quando um irmão morre na montanha onde estás, não te sentes na cela onde consegues ouvir a notícia, mas vai sentar-te com ele e chora sobre ele; pois está escrito: “Chora pelo homem falecido e caminha com ele até que seja enterrado”, pois esta é a última coisa que se pode fazer por seu irmão. Saúda seu corpo com compaixão, dizendo: “Lembra-te de mim diante do Senhor”.

Filho meu, faz tudo o possível para observar as coisas que escrevi para ti, pois elas são as regras do ofício do monge. Deixa que a morte se aproxime de ti de dia e de noite, pois tu sabes que conheces ela e te dirá: “Eu nunca a pus em meu coração. Meus pés estão no umbral e viverei até cruzar o umbral da porta”. Filho meu, põe sempre toda a tua mente diante de Deus e não deixes que todos estes pensamentos instáveis te desviem do caminho. Tem sempre em vista os castigos que vêm. Enquanto estiverdes em tua habitação, faz-te semelhante a Deus.

Se um irmão vem até ti, regozija-te com ele. Saúda-o. Prepara água para seus pés. Não esqueça isto. Que ele reze. Ficai sentado. Saúda suas mãos e seus pés. Não o incomodes com perguntas como: “De onde vens?”; pois está escrito: “Desta maneira, alguns, sem saber, têm recebido anjos em sua morada” (Heb 12, 2). Crê naquele que veio a ti da mesma forma como crerias em Deus. Se ele for um homem mais virtuoso que tu, diga-lhe humildemente: “Que teu favor esteja sobre mim”, o que equivale a dizer: “Tu és meu mestre”. Guarda tua comida e come com ele. E se tiverdes algum compromisso, desmarca-o; pois está escrito: “Filho meu, sempre me traz prazer acompanhar o homem que quer caminhar”. Deves regozijar-te com ele e estar feliz. Fazei o máximo que puder para que te bendiga três vezes, para que a bênção do anjo que entrou com ele venha sobre ti.

E como exige a mesma fé da Igreja Católica, não te desvies dela, nem te ponhas fora dela. Cremos em só Deus, Pai todo-poderoso, e em seu Filho único, Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem foi feito o universo, e no Espírito Santo, ou seja, [cremos] na Santíssima Trindade, a divindade plena. Ele [Jesus] é Deus, Ele estava com Deus, Ele é a Luz que vem da Luz, Ele é o Senhor que vem do Senhor. Ele foi gerado, não criado. Foi gerado como homem. Ele não é uma criatura, é Deus. Foi gerado pela Santíssima Virgem Maria, a mulher que levou Deus em seu seio. Ele tomou a carne do homem para o nosso bem, [veio] à terra e dela ascendeu. Escolheu pregadores, os Santos Apóstolos, cujas vozes, conforme o que está escrito, têm sido ouvidas em toda a terra (Sal 18 [19],4). Fui crucificado e traspassado com uma lança. Daí veio a nossa salvação, Água e Sangue, isto é, o Batismo e o glorioso Sangue; quem não recebeu o Sangue, não foi batizado.

Faz isto, filho meu. Mantém esta fé e o Deus da paz estará contigo, e te salvará, e te libertará, e estarás em paz pelo resto dos teus dias. A salvação está no Senhor, filho querido, no Senhor. Lembra-te de mim, amado no Senhor, por Jesus, o Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem à glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.



 



domingo, 5 de junho de 2011

Comentário dos símbolos no Brasão


 Brasão Mauro de Almeida



Significado dos símbolos


A Cruz – É um dos símbolos mais antigos da fé cristã. Os primeiros cristãos encontraram nela o sinal visível que os identificavam como seguidores e participantes[1] no mistério de Cristo pelo batismo, fazendo assim lembrar-se do elo de pertença que aí se forma pela adesão ao reino de seu Pai. 

Na mesma, encontramos ao pé a cor vermelha, para lembrar com que entrega e amor à vontade de Deus o próprio Cristo derramou o seu sangue, não se esquivando do desafio que lhe sobreveio, pela redenção dos homens.[2]

As três estrelas – Nos revelam o mistério trinitário e com que forma o mesmo está presente na história de todo o homem, desde sua origem.[3] Nota-se que, a que se encontra ao meio, por conseguinte, a maior dentre as duas outras, está ligada à Cruz para nos indicar a semelhança que se deu por meio de sua encarnação com a natureza humana,[4] embora tendo conservado sua divindade;[5]  é sempre o mistério divino que se mistura à vida do homem em seu interior, com o intuito de restaurá-la. Para esse fim, faz-se mister a tomada de consciência desta realidade, que traz em si mesma o apelo percebido no anseio de cada pessoa em particular, como um chamado[6] insistente de fazer a experiência de Deus ao buscá-Lo dentro de si.[7]

O lado negro com a flor – O negro aqui representa as nossas trevas, nossas misérias, nossos males, o que existe de mais sombrio em nossas ações insubordinadas e que vez ou outra se revelam em alguma situação, ao longo de nossa caminhada terrestre. A flor representada em meio ao espaço negro é um Lótus. Bem conhecida na cultura oriental é encontrada como um símbolo ao lado de grandes deuses e mestres espirituais iluminados; ela nasce na lama e só se abre quando atinge a superfície, onde só então se mostra em sua beleza com suas luminosas e imaculadas pétalas auto-limpantes, isto é, tem a propriedade de repelir microorganismos e poeiras. Ela representa a pureza original, em outras palavras simboliza aqui o próprio Deus que quer ser encontrado com toda a realidade que existe dentro de nós mesmos.[8]

A árvore seca – Este símbolo é a representação a mais próxima no que se refere ao tempo vivido pelos (as) anciãos (ãs). É possível notar que na imagem apresentada, ainda que em pleno deserto, se pode ver em seu cimo uma folha verde, sinal da vitalidade espiritual que subsiste à fraqueza física. A esta árvore se agrupa a memória do trajeto percorrido por tantos homens e mulheres, que, buscando a solidão do deserto, encontraram aí a forma de estar em contato com a sua verdade,[9] a mais pura. Por meio deste contato, puderam fazer a verdadeira experiência de Deus ao se aceitarem em sua condição débil.[10]

Relacionado a este meio de isolamento voluntário, está a passagem do homem pelo abismo de suas próprias trevas, ou se quiser, de seus próprios vícios, como também ainda no confrontar-se com as situações de impotência frente às perdas, a doença, o medo ou qualquer que seja o momento que o ponha sob o estado ou sentimento de abandono.[11]

O cajado – É compreendido como o instrumento em que se apóia a fragilidade dos (as) anciãos (ãs) e, consequentemente, de qualquer ser humano cansado das lutas empreendidas.  É o sinal do consolo nas penas, um chamado à razão para saber esperar quando não mais parecemos suportar o peso de nossa jornada.[12]

O sol – Na cultura cristã o sol é sempre figura de Cristo,[13] sobretudo, no que se refere a sua divindade. É justamente sob esta luz[14] que ilumina e dá vida que são vividos os momentos de conflitos internos, como, as lutas diárias, com o olhar que se volta para a misericórdia de Deus e que contempla a si mesmo antes de qualquer outra criatura.[15] O sol é por assim dizer, a voz interna que nos indica a direção do verdadeiro caminho, que abre os nossos olhos para a verdadeira imagem que Deus faz de nós,[16] sem negar aquilo que compõe nossa essência, ou seja, o que de fato somos e para o qual fomos feitos, antes mesmo de virmos ao mundo.

O sol também é entendido como a fonte da sabedoria espiritual,[17] e que, ao longo do caminho, se vai adquirindo pelo experimento, com aquela atenção devida para o que o mesmo, por meio de seu clarão,[18] está a nos apontar dentro de nós mesmos, nas condições onde quer que nos encontremos, em outras palavras, com a experiência profunda que se faz como pessoa humana.[19] 



Resumo:

In Debilitate Virtus[20] (na fraqueza, a força) – Este lema visa ressaltar o paradoxo que é constatado na existência de cada homem – realidade muitas vezes esquecida – e que envolve a verdade sobre si mesmo por meio da tomada de consciência de suas fraquezas, da potencialidade que a partir de então se gera seguida do confronto, contida na vida de toda pessoa em sua particularidade.

Para a melhor compreensão deste assunto, podemos buscar razões explicativas que se encontram inseridas no mistério da natureza; é justamente por fazermos parte da mesma natureza criada, que podemos nos enxergar dentro dela e vice-versa.

Tomemos como primeiro exemplo, a semente.[21] Ao olharmos para uma semente sabemos que ela é em potência a árvore contida em sua espécie característica, mas somos cientes de que a mesma tem que apodrecer[22] para ser manifestada a sua força. Ela é constituída como tal, e sem esse processo, aparentemente de morte, não tem como se mostrar frondosa.

Sob teor diferente, mas paralelo a esse âmbito do reino vegetal, podemos considerar um exemplo do reino mineral ao citar o diamante; ele não é nada mais que um composto de carbono em seu estado fosco, disforme e bruto – sem formosura alguma – mas, que, polida, torna-se um elemento de beleza ímpar por seu brilho extraordinário. Semelhante a isso podemos constatar no ouro a mesma realidade, quando o mesmo, por sua vez, é descoberto no solo ou nas rochas, ao se apresentar misturado a impurezas que aí se encontram.[23]

Em relação ao homem, das transformações possíveis de suas ações, há um dado todo particular de se entender o mistério que envolve a força, como por assim dizer, toda subordinada à fraqueza, e que se dá pela tomada de consciência da mesma.

Para um atleta, é imprescindível ao mesmo estar consciente de suas debilidades para só assim poder capacitá-las ao transformá-las em força no adestramento de suas impossibilidades em vista da sua própria superação, etc.[24]

Estes exemplos são aqui apresentados na esfera física de nossa realidade extra/quotidiana é claro, mas o que aqui queremos propor é a maneira pela qual podemos alcançar a força no confronto diário que procura dialogar com o que mais nos incomoda, sobretudo com as nossas fraquezas morais e espirituais, que passam de certo em primeiro lugar na tomada de consciência de nossa verdade a mais pura.[25] É por meio desta via que poderemos encontrar o ponto de partida para a verdadeira transformação que tem o seu princípio no coração (ou consciência) de cada homem.[26] 


*Criado na Solenidade da Ascensão do Senhor de 2011

Maurus                  


[1] Cf. Mc 8, 34; 1Cor 1, 23.
[2] Cf. Col 1, 19-20; Ap 5, 1-14.
[3] Cf. Gn 1, 26a.
[4] Cf. Fl 2, 7-8.
[5] Cf. Fl 2, 6.
[6] Cf. Lv 11, 44; 19, 2; 20, 7; Mt 5, 48.
[7] “Eis que habitavas dentro de mim e eu Te procurava do lado de fora” – Santo Agostinho, Confissões 10, 8-15.
[8] Cf. Lc 17, 20-21.
[9] Cf. Eclo 6, 2-3; Ez 17, 21-23.
[10] Cf. Ez 17, 24.
[11] Cf. Sl 70, 9.
[12] Cf. Sl 70, 1; 118, 116.
[13] Cf. Lc 1, 78.
[14] Cf. Lc 2, 32.
[15] Cf. Tt 3, 5.
[16] Cf. Sb 7, 24.
[17] Cf. Sb 7, 24-26.
[18] Cf. Ez 43, 2.
[19] Cf. Jó 12, 12.
[20] Cf. 1Cor 15, 43; 2Cor 12, 9.
[21] Cf. Mc 4, 26.
[22] Cf. Jo 12, 24.
[23] Cf. Mt 13, 44.
[24] Cf. 1Cor 9, 25; 2Tm 2, 5.
[25] Cf. Jo 8, 32.
[26] Cf. Sl 94, 8; Ef 1, 18; 1Pdr 3, 4.
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